sexta-feira, 3 de outubro de 2014

EMOÇÃO DE UM TRANSPLANTADO

EMOÇÃO DE UM TRANSPLANTADO

Em 25 de setembro de 2014, coincidentemente data do meu aniversário, o Hospital São Rafael, em Salvador, BA, comemorou o dia do transplantado. Participei do evento, como modesta tentativa de exprimir minha gratidão a todos que contribuiram para meu bom estado de saúde atual e, principalmente, em condições para viver e ser feliz.
Foi um encontro com vários depoimentos, por diversos transplantados, de variados órgãos; fígado, rins, córnea, pâncreas, medula; transplante duplo, e até sequenciado, um é depois outro. Alta emoção estava presente em todas as falas, e culminou, no coração de todos, quando foi anunciado um depoimento presencial, daquele que fora,  até aquele momento, alvo de gratidão de todos, um doador: Um jovem com aspecto extremamente saudável e bem humorado veio nos testemunhar a sua alegria e gratidão de ter podido contribuir com aquela causa, todos se impressionaram com sua alegria e disponibilidade, para doar-se em forma de medula óssea, plaquetas e sangue, e mantendo-se, como todos viam, cheio de bem estar e, sobretudo, feliz.
No fim dos depoimentos, cabia a mim dizer algumas palavras de gratidão. Preparei-me com afinco desde a véspera. Elaborei previamente algumas "linhas-guia" para me orientar, e segui confiante sobre o conteúdo, porém fiquei muito emocionado com as narrativas. Pensei, parece que meu tema, gratidão, já está bem preenchido por todos. Que teria eu a acrescentar? Confesso: bateu uma autocrítica severa, mas não esmoreci.
Chegando ao pódio, mal conseguia falar. Lembrei-me que, na véspera, enquanto me preparava, Dôra, minha mulher, que sempre me acompanhara e lá me olhava fixamente, me apresentara um texto que lhe viera à inspiração, durante meu ato operatório. Foi minha salvação, Pedi para lê-lo e também usou o tempo para traduzir nossa homenagem ao Dr. Luiz Guilherme Lyra, mentor do meu transplante, falecido enquanto viajamos. Quando tomei a palavra, já calmo e seguro, segui fielmente à minha idéia preparada, sem olhar as anotações e enriquecendo-a com minhas inspirações sobre o amor, sua fonte, o próprio Criador, a síntese que nos foi dada por Seu Filho nos mandamentos da Boa Nova.
Lembrei-me também de uma menção carinhosa, sem citação de nomes e números, ao primeiro transplantado do mundo, em 1967, na África do Sul, que com sua curta sobre-vida de 18 dias, Louis Waskanski, 53, tanto ajudou aos cientistas, da equipe do Dr. Christian Bernard,  no aperfeiçoamento da técnica que finalmente nos favoreceu. Todos aplaudiram em aprovação aos pensamentos, não meus próprios, mas frutos de uma inspiração muito bem vinda e iluminada. Adiante, vai a recuperação daquele texto que havia preparado com antecedência.
Antes de iniciar minha fala, quero compartilhar com todos uma mensagem que recebi de uma querida prima da mesma idade que eu, transplantada três anos antes de mim, quando lhe pedi um dica sobre o que dizer, neste momento, a vocês.
"Só lembrei de uma frase de Guimarães Rosa: 'Viver é um rasgar-se e remendar-se' Estou 'remendada' há 4 anos e muito feliz por estar viva.
Agradecida por ter recebido este presente maravilhoso de um doador anônimo: um fígado em bom estado. E também, a todos os que me ajudaram nas fases antes, durante e depois.
Me sinto abençoada."
Seu nome é Mary Lou Tolentino C. Rebelo.
Esta, quase irmã, junto com com o muito saudoso e referido Dr Luiz Lyra e, de modo especial, minha mulher, foram decisivos na minha aceitação deste, que considerava naquele tempo, tão arriscado tratamento.
Até ainda há pouco, não sabia se o dia de hoje era do transplante ou do transplantado. Num caso ou noutro, acho que, o grande merecedor de todas as homenagens é doador. Não que que ele tenha necessariamente feito qualquer esforço para isso. Mas, nos dá o que tem de mais valioso, vida, que possibilita nossa existência continuada.
Assumimos, deste modo, responsabilidades por duas continuidades: da nossa vida original, e da parte deles, que em nós está presente.
Devemos, também, os transplantados, uma homenagem e imensa gratidão aos profissionais de saúde de todas as categorias, especialmente os médicos, pela desmedida dedicação e extenso aprofundamento intelectual que possibilitaram e, temos certeza, cada vez mais, possibilitarão, de modo crescente e seguro, conduzir está maravilhosa conquista científica, de que fomos merecedores, perante ao Pai Criador.

Paulo Tolentino Vieira, um transplantado de fígado, 25/09/2014

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CRUZ DAS ALMA - PALCO DE MINHA INFÂNCIA

A cidade Cruz das Almas, no final dos anos 1950, ficava aproximadamente há 6 horas da Capital, Salvador, numa viagem pelo Vapor de Cachoeira, de mais ou menos, quatro horas, além de, mais quase duas horas, subindo por rodovia de chão até lá. Ficava numa gleba de planalto e, no inverno, chegava a fazer um friozinho gostoso pela noite.

Quando eu era menino, ia para lá nas férias, ficava com os queridos tios Clodoaldo e Ivandith, para passar algum tempo brincando com Nadinho. Aliás, não só com ele, mas com toda aquela turma unida, que eram os filhos dos professores da Escola Agronômica da Bahia, onde meu tio, que eu admirava por seus valores morais e intelectuais, era também professor. Ministrava Mecânica Agrícola. Tudo que se refere à mecânica, sempre me fascinou. Os professores moravam todo juntos, num bairro interno da área da escola. Que lugar e pessoas interessantes!

Naquela época, o "campus" era um notável avanço sócio tecnológico, situado naquelas plagas longínquas. Lembro-me que as casas tinham água quente, vinda de equipamento instalado acima do fogão a lenha, usando energia térmica das suas brasas. Produzia água quente para todo o dia e ainda a conservava noite à dentro. Que avanço tecnológico notável, para uma época que a energia de biomassa ainda era muito abundante e barata! Para água de serviço, cada casa tinha um poço subterrâneo, com cisterna e bomba elétrica; A água potável era fornecida por um aguadeiro que percorria regularmente as casas, com um jegue com caçoar às costas, trazendo alguns barris de madeira. Sua qualidade era muito fina e saborosa! Logo após, foi inaugurada uma caixa d'água comunitária, à vista da varanda da casa de Nadinho. A lenha do fogão também era fornecida regularmente por um trator com carreta, da própria escola, ou se a obtinha com facilidade pelas redondezas, até mesmo recolhendo gravetos ou paus secos nos fundos do quintal, com pomar de árvores frutíferas, selecionadas à critério de cada morador. Essas casas tinham ainda um jardim frontal sempre muito bem cuidado. O conjunto era muito harmônico! Na entrada do prédio principal da Escola, havia um extenso jardim pergolado sempre florido. Era orientado pelos professores, especialistas do assunto. Lembro-me do nome de Paternostro, como um dos entusiastas que sempre o comentava.
Nos aspectos sociais, estava o ponto alto daquele excelente convívio, apartado do tumulto que já começava a se avizinhar das grandes cidades. Eu, de fora, me comprazia em ter amigos para brincar soltos na rua! No bairro que eu morava em Salvador, estas proezas eram já impossíveis pela insegurança e trânsito crescentes, com autos e coletivos. Lá, o tempo extra escolar era tomado pelo companheirismo de todos, em “babas”, caçadas para abastecer cozinhados com as meninas, e outras “reinações” parecidas com as encontradas em Monteiro Lobato, um dos meus escritores preferidos na infância. Pensava: eles nem precisam ler, para ter tudo isso presente na vida. Com uma certa ponta de inveja.

Nos festejos juninos, aquele enlaçamento de adultos, crianças e adolescentes era gostoso e enchia minha alma. Ali ensaiei meus primeiros passos em muitas coisas: na fé, com novenas de Sto. Antônio da casa de D.Safira e Dr. Ivan Carneiro, e sua turma de filhos crianças e adolescentes, com a dança e apreciação da boa música nas serestas de Dr. Floriano Mendonça (que vozerio e afinação!), Dr. Conceição (Mestre das cordas), e o adolescente Luiz Fernando - que já ia adiantado na sua arte, além de muitos outros amigos. Os cortejos, de casa em casa, com muita musicalidade e comilança eram motivo de integração e prazer muito grandes. Além da participação inter geracional evidente em tudo, como comentado no caso da música, nunca me esqueço também, de meu irmão, ainda muito pequeno, dançando e contrastando com o porte de D. Leonor Ramos, num par muito curtido por todos.

Numa das visitas, convivi com a época do exame de admissão ao Ginásio Alberto Torres, que Tio Clodoaldo se dedicava paralelamente à Direção. Os dias que o antecediam eram de grande tensão social, cada família torcendo e tentando robustecer a capacidade de seus candidatos, tal o rigor que a contenda era revestida. O corpo docente era integrado significativamente por aqueles professores universitários da Escola Agronômica e suas esposas que, com filhos ainda escolares, “endureciam o jogo” para alcançar qualidade de ensino crescente. Muito justo, procuravam o melhor para todos!

Voltei para morar lá, por dois anos, quando trabalhei na obra da Barragem de Pedra do Cavalo, no final dos anos 1970 e com família já se constituindo. Meu filho mais velho, Bruno Lopes Vieira, veterinário, com quase 40 anos, afirma ter ótimas recordações de lá, onde viveu sua primeira infância e início da alfabetização. Já era uma outra realidade, mas um sabor igualmente prazeroso. Como tenho saudade daquela primeira Cruz das Almas que conheci.

Venho aqui me congratular, além do meu primo Nadinho e da querida Avani que também compartilhava conosco e com todos seus e meus amigos: Flavinho, Deca e Aída, Jackson e Pedrinho, o saudoso Niltinho, seus irmãos Miguel, Jorginho, Ivanira, Aninha e Laurinha, Luiz Fernando, Jonga, a saudosa Carolina e Paulo Sérgio, Jorginho e Cátia, Dino e Lúcia, Zinaldinho, João e Liginha, Luciano, Eraldo, e tantos outros que embora também permanecem dentro do meu coração e com muito apreço, pelo transcurso de quase 60 anos, não consigo recordar todos os nomes.

Minha mulher costuma repetir um dito do pai dela: “Todo Agrônomo que conheço é gente boa”. Estendo o raciocínio; “Laranjeira não dá jaca!” e “Filho de peixe é peixinho”, portanto congratulo-me, neste dia, com vocês e todos que, agradeço, reconhecendo o tanto ajudaram a colorir minha infância.
Paulo Tolentino, 13 de setembro de 2014,  com apoio de Ivanaldo G.  Costa - Nadinho

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O DINHEIRO E SUA “MÁGICA”

A experiência que acumulei e a que reuni me apresentaram uma lição. Parece mesmo que o dinheiro tem uma mágica, a do equilíbrio ao longo do tempo.


Passei a acreditar que o dinheiro, quando é transferido de boa vontade, ou quando é trocado de um modo no qual ambas as partes se sintam em equilíbrio de satisfação, ele frutifica. É como se fluísse acompanhado de uma boa energia desenvolvedora. Como é aquela edificante que acompanha o "dinheirinho suado e merecido".


Alguns exemplos que testemunhei construíram e fortificaram está minha avaliação:


  • Riquezas obtidas como fruto de roubos, ou atos ilícitos do ponto de vista ético ou de legitimidade raramente acabam resultando em bons proveitos para quem os obteve.
  • Poucos são os herdeiros conflituosos que chegam a prosperar com o fruto de seus legados, alcançando prosperidade perene.
  • Excetuando a sustentação normal de filhos, certos artistas notórios ou mesmos pessoas comuns que separadas recebam pensões vultosas dificilmente alcançam os propósitos de realização perene e felicidade. Examinei muitos casos e não tive muitas evidências contrárias.
  • Em mercados livres, os preços dos bens ou serviços, quando exorbitantes, acabam punindo os ofertantes com redução de suas vendas, decorrente de surgimento de concorrentes, por renúncia de compradores ou por outros fenômenos regidos por uma lei econômica chamada de Lei da Oferta e da Procura, que regula naturalmente os preços, nas relações de troca.
  • Os impostos e a tributação, quanto mais escorchantes, menos resultam em notáveis vantagens, para os governos que os impõem e povos que os aceitam. Parece-me que os investimentos necessários para tentar justifica-los e para robustecer desmedidamente um máquina arrecadatória acaba consumindo a maior parte, além da corrupção que acaba se instalando como se fosse para dilapidar a desmedida. A esse propósito, lembro-me do ensinamento da Curva de Laffer 1 que resumidamente mostra que uma arrecadação à alíquotas extremas de 0% ou 100% resultariam em igual valor nulo de resultado. Logicamente, entre esses dois extremos, vários valores significativos existem. Começam crescentes e, a partir de certo ponto, começam a decrescer. Concluo aqui, que,  em alguns povos, esse "fenômeno", natural ou não, acaba por "amaldiçoar" os fluxos de riqueza inapropriadamente direcionados, que condena países de pequena capacidade geradora de riquezas mas com desproporcional carga tributária ao baixo desenvolvimento social.


Por casos como os acima enumerados, chego até mesmo a tentar resistir ao pensamento que  haveria uma força "mágica" a considerá-lo como ganhos "malditos”, não encontrando excessões relevantes. Após refletir e pesquisar sobre que traço comum estaria presente nesses exemplos, sou inclinado entender que; se a utilidade (bem ou serviço) que alguém transfere para outro tem seu valor espontaneamente reconhecido, este valor, ao se transformar em pagamento, tem o condão da representar o equilíbrio, numa troca bem aceita. E por isso, considerado legítimo. E só assim pode contribuir para o sucesso e a felicidade.

1 - Curva de Laffer - publicada pelo Norte Americano  Arthur Laffer e popularizada por Jude Wanniski na década de 1970  (vide verbete específico na Wikipédia)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

BRASÍLIA, CAPITAL DA NOSSA REPÚBLICA

Sede do poder, população poderosa. Este é um dito historicamente comprovável. Examinemos desde a antiguidade; Atenas e o restante da Grécia, Roma e as demais cidades nas múltiplas regiões daquele império, Londres em relação às das suas colônias. Excetuando apenas os Estados Unidos, no mundo contemporâneo, parece-me uma verdade. Mas, tal excessão, atribuo a que, naquele país , mais clara e transparentemente, o poder político se subordina ao poder econômico. New York, ao invés de Washington parece ser a capital, segundo nossos paradigmas de comparação. 

Ainda quanto às características das sedes de poder, e particularizando o caso brasileiro, tais sedes acabam sendo povoadas, naturalmente, por população que mais se aproxima dos titulares do poder, exercendo-lhes influência pessoal, e busca conforto e qualidade de vida, de modo mais intenso e convincente que o restante da comunidade, mais distanciada. Assim foi Salvador, na época colonial, Rio de Janeiro, até 1960, cedendo gradativamente força para Brasília a partir de então.

Hoje vemos nossa capital federal, como um primor de urbanismo, relativamente às demais capitais e grandes cidades brasileiras, em flagrante descompasso com a média da qualidade de vida destas. Nossa capital maior,  parece ser um oásis, quando de lá, alguém se aproxima, a partir de qualquer ponto do território pátrio. 

Aliás, nela, sob visão mais acurada, pode-se perceber semelhanças relativamente a certos traços do nosso Brasil. Claro que em outras proporções,  estão caracterizados os desequilíbrios brasileiros, sob o ângulo de numerosos vetores de observação social: Economia e Renda, Educação, Informação, Saúde, Higiene, Saneamento, Segurança, Respeito ao Cidadão, e mais. 

Evidentemente, numa cidade como a nossa capital federativa, todos estes ângulos, apesar de tentativamente ocultados à visão mais superficial, ainda estão observáveis. Seria impossível ocultá-los com perfeição!

Vejamos sintomas infelizmente triviais como: mendicância presente, transporte público problemático para os menos afortunados, fluidez do trânsito difícil em muitos horários, contrastes flagrantes de riqueza com pobreza e muitos outros aspectos de desconforto social, quando a comparamos com outras cidades de porte e idade semelhantes, situadas fora do Brasil e, portanto, mais livres da "contaminação" desses descompassos nacionais.

Por experiência própria, não consigo deixar de me lembrar de Orlando, Florida, nos Estados Unidos, cidade também nova, onde esses aspectos sociais parecem estar mais bem resolvidos. Outros exemplos, em outros países, conhecidos ou não por mim, certamente podem ser evocados!

Orlando teve sua maior aceleração no desenvolvimento urbanístico quando a empresa Disney resolveu replicar na Florida, também nos anos 1960, sua bem sucedida experiência de parques temáticos de laser, iniciada mais de uma década antes, com a Disneylândia, na Califórnia, próximo ao pólo do cinema, Hollywood. No novo local, mais próximo da Europa e mais acessível à América Latina, ampliou o seu mercado e proporcionou novas e abertas oportunidades para o produto "laser", com demanda crescente no mundo. Promovia, assim, mais empregos,  por intermédio de uma renda crescente e expontaneamente advinda de fora do país e de outras regiões, renovável infinitamente pelo rápido ciclo de produção e consumo (oferta em equilíbrio com respectiva procura). Seu desenvolvimento, em outras palavras, decorreu de produção e consumo sempre equilibrados e não desestabilizadores do nivelamento social. Não há falta de empregos, segurança e uma população de indivíduos empregados e com renda adequada pode se sustentar quanto às suas demais necessidades,  inclusive de saúde, educação e demais requisitos desejados, com harmonia social.

A história da nossa capital, embora contemporânea àquela, partiu de decisão governamental, à custa de endividamento público e elevada tributação que se perpetuou, e teve, na maior parte da sua história de desenvolvimento, sob a tutela de um governo ditatorial, anti democrático e economicamente intervencionista, em pleno descompasso com o desenvolvimento nacional e mundial. A história recente já demonstra sobejamente que esses direcionamentos fechados, da economia de um país, acabam sendo causadores de fragilidades sociais de dificílima superação. 

Concluo meditando: Brasília é bela, como é o meu Brasil. Para que ambos se desenvolvam, enaltecendo essa beleza,  sob todos os ângulos sociais, é sempre nosso dever procurar melhores caminhos, convergentes com um mundo melhor,  com harmonia universal e sob foco abrangente. Os exemplos existem. Basta procurar os melhores. E trabalhar com inteligência, honestidade e afinco. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

BAIRRO DE NAZARÉ - VOCAÇÕES E MELHORIAS


Nazaré foi o cenário de minha infância e adolescência. Volto a revisitá-lo com regularidade quando preciso me abastecer de um remédio preventivo da rejeição pós-transplante, fornecido gratuitamente ao povo, com exclusividade pelo, Governo Federal, na Farmácia de Medicamentos Excepcionais - FARME, instituição fornecedora de diversos medicamentos necessários à sobrevida, e que funciona no interior do Hospital Manuel Vitorino. Este serviço público se destaca entre os poucos eficazes e eficientes, portanto, é merecedor de todos os elogios pela organização e presteza. A amabilidade e dedicação dos seus servidores é um caso à parte; a eles, e sua coordenação, em especial, meus agradecimentos e maiores elogios.


Mas, analisemos e reflitamos, de modo mais abrangente, quanto a realidade do bairro de Nazaré. Situado numa altitude considerável da cidade de Salvador, Bahia, por várias circunstâncias e fatores históricos, concentra, em sua área de influência, um número muito interessante de hospitais e outras unidades de saúde. Somente no próprio largo, há longos anos estão os Hospitais Sta. Isabel, Manoel Vitorino, Prof. Carvalho Luz (Antigo Naval), Sta. Luzia e Maternidade Climério de  Oliveira. Ao seu redor, além de alguns serviços privados, está o Banco de Sangue público e, há menos de 900 m., e o Hospital Militar,  logo ali pertinho, na Ladeira dos Galés, na subida para o vizinho bairro de Brotas, onde fica também uma importante estação do Metrô.


A praça é bem arborizada e espaçosa, contribuindo para o equilíbrio ambiental, o que lhe dota de um certo bucolismo muito prazeroso. Sombreada, quase consegue esconder alguns traços de um certo abandono. Somando-se às  instalações de saúde, ainda estão, pelo menos, dois grandes templos católicos, e dois evangélicos nas cercanias, além de alguns colégios de porte considerável e da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, no próprio espaço da praça. Sem dúvida, é local de grande fluxo de pessoas, tráfego e estacionamento de veículos. Parece-me que consolida-se ali uma vocação para o trinômio Saúde Educação é Fé, estabelecida há muitas décadas. Quando por lá vivi, estudei em duas escolas, no próprio largo: o Colégio Estadual Severino Vieira e mais uma escxola particular para crianças. Já naquela época, há mais de cinquenta anos, a vocação local já se configurava, como hoje vem se mantendo, apesar de crescentes dificuldades de acesso e estacionamento.


Na mais recente das visitas, vi que os espaços públicos da própria praça estão escassamente frequentados por pessoas, e senti que o local não está lá tão bem equipado como praça de bem estar público. Talvêz em consequência dos residentes das proximidades virem se reduzindo, e cedendo lugar a empresas, clínicas etc. Ela está, assim, apinhada por veículos estacionados e já quase mostra como reduto de desocupados, “moradores de rua” e aspirantes a "flanelinhas", já que alguns e insuficientes operadores de "zona azul" "credenciados" estão por lá. Percebi também que grande volume dos que por lá transitam são usuários de transporte público ou de pequenos veículos.


Com tudo isso na cabeça,  veio-me um lampejo: Sugerir ao nosso prefeito algo para tornar aquele local da cidade ainda mais útil, acessível e confortável para o povo, com poucas e módicas intervenções! O que também percebo que é possível em muitos outros pontos de Salvador.


Os atuais empecilhos de Nazaré podem ser superados, sem investimentos vultosos, mas com medidas efetivas. Por que não estimular a continuidade vocacional, de origem?



Volto a lembrar que o local está muito próximo daquela estação do Metrô, em Brotas, que começa a mostrar sua utilidade pública mais e mais, além da do Campo da Pólvora. Portanto, a criação de uma linha integrada com microônibus rápidos e confortáveis para Nazaré, passando no Hospital Militar dos Galés seria de inquestionável utilidade. ate mesmo para possibilitar o afastamento de algumas ambulâncias e microônibus que para lá acorrem, vindo de cidades circunvizinhas.


Para melhorar o tempo de trânsito, tornando mais fluida a circulação no próprio Largo de Nazaré, os espaços, que hoje estão pobremente ajardinados e cimentados, poderiam ceder algum lugar para: mais estacionamentos módicos ou gratuitos, e para maior largura das pistas de rolamento, além de instalar um terminal da integração com o Metrô, via as estações mais próximas, melhorando o serviço ao povo da cidade, como ponto de embarque e desembarque para outras linhas de ônibus, já existentes, estendendo, deste modo, sua integração com outros bairros a mais.
Paulo Tolentino de Souza Vieira
Adm. de Empresas - Aposentado
Salvador, 10/08/2014


sexta-feira, 25 de julho de 2014

RESULTADOS DE UM TRANSPLANTE


Apresento este texto para encorajar a quem eu possa. Há um ano e quatro meses atrás, me submeti a um transplante de de fígado.

No momento que me aposentei, tinha como objetivo principal e imediato, me livrar das consequências de degeneração cumulativa no meu fígado, consequente duma cirrose de origem bioquímica, para poder, saudavelmente, me reposicionar perante meus semelhantes e a vida.

Tratei-me procurando me apoiar no que havia de melhor na medicina hepática da Bahia, Dr. Luiz Guilherme da Costa Lyra (que foi chamado infeliz, repentina e prematuramente logo pós minha operação) bem como sua equipe, com destaque especial para o Dr. André Lyra, seu filho que, ao cabo de algum tempo, me direcionaram para um transplante do fígado, muito bem sucedido, como aconteceu com a esmagadora maioria dos seus clientes. Graças a essa equipe, e aos demais abnegados que me cuidaram, no Hospital São Rafael, ao meu doador (cuja identidade, por lei, não pude conhecer), a minha motivação pessoal e, principalmente, a Deus.

Já que estou dedicando alguns créditos decisivos na minha recuperação, não poderia omitir a minha mulher, escritora e humanista Dora Ramos, me apoiou totalmente e, incansável, enfrentou junto comigo todo o sofrimento, antes, durante e após o transplante, tendo até, me substituído e se transformado em meus braços e pernas, e, por algumas vezes, até em minha mente, quando a encefalopatia hepática me colocava, eventualmente, em lapsos de razão.

A cirrose, que tive, na minha interpretação, adquiri por conta de, não saber me posicionar ante certas adversidades emocionais. Então o velho fígado passou a ser atacado duplamente; pelo metabolismo interno do corpo humano, que, nessas situações, descarrega no órgão uma série de substâncias nocivas, forçando-o a trabalhar a mais para atenuá-las, com sobrecarga estrutural, e em segundo plano, pelo efeito nocivo de alguns medicamentos normalmente consumidos naquelas situações.

Este pós diagnóstico não é do médico, e sim da minha autoria e inteira responsabilidade, atribuo a profunda análise retrospectiva da minha vida, realizado, no leito, enquanto me recuperava da cirurgia.
Quanto ao meu reposicionamento emocional, tratei de intensificar a terapia, me colocando com mente mais aberta, lidar com meus conflitos interiores, eliminando-os, por processo de compreensão e aceitação da realidade imutável, ou migração, para onde minha índole melhor se ajustasse. Foi assim que mudei radicalmente de vida, e realizei um antigo desejo de estar, por algum tempo, na Florida, onde tenho imóvel de moradia alternativa, adquirido há muito tempo.
Depois de passada a fase mais aguda do tratamento pós operatório, que fazer com a boa saúde, o tempo livre, o conhecimento, a experiência e o pique que ainda disponho? É preciso ficar de olhos bem abertos para as oportunidades que surgirem, ou que eu possa estimular. O hábito de passar a escrever, sem dúvida, uma dessas chances.
Foi e é necessário buscar maior participação social, conhecer pessoas, experimentar novos hábitos, necessidades e desejos, por exemplo, em atividades religiosas ou institucionais, desde que me preencham o desejo de servir ao próximo e a Deus.
Para aquelas pessoas que estão na expectativa de um transplante, concordo que é assustador. Mas, se posso dar, e for útil, um testemunho da minha experiência, garanto que foi compensador. Me sinto física e emocionalmente melhor do que nunca e atribuo este sucesso a minha coragem de enfrentar, primeiramente às minhas limitações como o pessimismo (uma delas, mas não a maior), e coragem para confiar em todos que me desejam o melhor, principalmente em quem me deu o dom da vida e não vai tirá-la antes da hora, o Criador e Senhor de tudo.
Senhor,
dentro de mim, há vida.
Graças a ti, e a um doador.
Que sua alma seja louvada.
Assim, seja.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

PAI NOSSO - REFLEXÃO

A forma da oração do Pai Nosso está no evangelho e vem de uma “aula” que nos foi dada pelo Cristo, exemplificando como devemos nos dirigir ao Nosso Pai Criador, e é adotada (com pequeníssimas variações) por todos os Cristãos, em todo o mundo.
Sei, também, que os versos, que aprendemos e costumamos recitar, foram estabelecidos a partir de diversas traduções sucessivas, do idioma original do Senhor.
Costumo assim, tomar a iniciativa de, ao tempo que os recito, fazer mais uma tradução interpretativa, uma alteração gramatical, colocando-os na primeira pessoa do singular (a que fala - eu, de dentro de minh’alma). Como exercício pessoal de reflexão, faço simultaneamente uma interpretação,  para que eles fluam primeiramente do meu coração, ficando os da memória como lembretes da cadência e do conteúdo do real ensinamento. Fica, aproximadamente, assim:

Pai nosso, que está no céu,
Meu (nosso) Pai (e Criador), que está no céu, na terra, em todos os lugares, inclusive aqui ao meu (nosso) lado e me (nos) ouvindo, agora e sempre.

Santificado seja o Seu Nome,
Sim, Pai Amado, Você  que é o próprio Amor e que significa aquela energia mais poderosa, o Poder Maior, e é total, raiz de todas as outras energias, fonte de todas as leis e de todas as aparentes contradições, como aos desavisados parece, a do livre arbítrio, dado, gradualmente, aos seres mais evoluídos, e que contém intrinsecamente o egocentrismo, que nas manifestações mais rudimentares, cede espaço para traços de desamor ao próximo, mas dentro de Sua sapiência, é condição oposta ao Seu pólo positivo, para que a energia circule e gere vida. Você é portanto o Gerador Santificado da vida.

Que venha a nós o Seu reino.
Sim, permita que eu (nós) atue (emos) sobre a realidade universal e terrena, transformando-a incessantemente no Seu reino do Amor, e da Paz, para a generalização da sua energia do bem.

Seja feita a Sua vontade, assim na terra como no céu.
Que Seu desejo do bem e da paz se generalize entre nós e se estenda ao universo.

O pão nosso de cada dia, dê-me(nos) hoje…
...agora e a cada dia, representado pelas dádivas materiais,como alimento para complemento da vida que você me (nos) deu, na proporção de meus merecimentos.

Perdoe minhas (nossas) ofensas, assim como perdôo (amos) aos que me (nos) ofendem.
Sim, Pai, peço (pedimos) sua misericórdia para, quando eu (nós) pratrique(emos) algum ato intencionalmente ofensivo ao seu mandamento do amor, do bem e da paz, estendendo a todos os seres iguais a mim (nós), ou a natureza do Seus reinos (animal, vegetal ou mineral).
Alem disso, Pai, dá-me (nos) serenidade para compreender que a raiz de todos os comportamentos dos outros, mesmo aqueles que venham se opor ao meus (nossos) desejos egocêntricos, são gerados a partir de momentos de debilidade deles, quanto à compreensão de Você e da Sua vontade. Peço, também, iluminar-lhes.

Não me (nos) deixe cair em tentação.
Peço-Lhe que compreenda minha (nossa) fragilidade, dando-me (nos) atenção e força e  para identificar e resistir aos apelos e atrações para tudo que for contrário às Sua orientação para o bem e do amor a Você, a mim e aos meu (nossos) irmãos.

Livre-me (nos) de todo mal.
Peço(dimos)-Lhe que sempre me (nos) abençoe e acompanhe e me (nos) cubra com todo poder e luz, para que eu (nós) não seja (amos) atraído(s) por ciladas que venham daqueles se lhe opõem.

Amém
É tudo que Lhe rogo(amos), para que aconteça por todo o sempre.

domingo, 20 de julho de 2014

NORBERTO ODEBRECHT

NORBERTO ODEBRECHT
Ontem o Brasil e a Bahia perderam o convívio com um
 AMPLO PENSAR.
Estou retornando do seu funeral.
Unidos rezemos todos pela sua Alma na eternidade.
Nossas condolências a toda a família.
Paulo Tolentino,
20/07/2014


quarta-feira, 16 de julho de 2014

PENSAR GRANDE

Certa vez, li a expressão “Pense Grande”, semelhante ao título acima, dando nome a uma coletânea de depoimentos de empresários de sucesso. Trata-se de denominação perfeitamente cabível àquele contexto, mas já percebi que esta estrutura vocabular se transforma rapidamente num jargão corriqueiro, quase uma “palavra”, diferente da simples palavra pensar, que cabe também para raciocínios imediatistas ou restritos a certas culturas ou contextos.
No presente texto, desejo uma abordagem mais macro, própria da esfera sócio econômica e intercultural. A ideia me surgiu a partir de depoimento radiofônico, de uma alta autoridade do poder judiciário baiano, referindo-se a indesejável causa da lentidão da Justiça em concluir os processos na sua alçada. Como estava dentro de um automóvel, procurando emissora cuja programação mais me interessasse, não tive chance de ouvir o início da fala e identificar completamente seu autor. Mas não faz tanta falta assim, pois aquele tipo de raciocínio se tornou também numa forma de expressão bastante presente no linguajar corriqueiro, principalmente pelas autoridades públicas, como padrão para justificar certas lacunas de satisfação do povo, relativamente a serviços ao encargo do governo.

Ele estava comentando sobre o crescimento acelerado da nossa cidade, relativamente ao estagnado número de magistrados disponíveis para fluir os processos, que cronicamente se acumulam. Na justiça, a demora é uma falha muito grave pois como vi em citação de Ruy Barbosa, no Blog do Noblat “(...) “Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque (...) contraria o direito das partes, e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade.” (...)”, assim comprometendo a sua real real finalidade e objetivo de sua existência, enquanto instituição pública e neutra.
Aliás essa tendência ao pensamento restritivo, que a acomodação natural do nosso povo deixou se instalar, por razões históricas e de nossa origem cultural predominante (ibérica, indígena e africana), acaba por nos manter conformados com o nivelamento dos projetos sociais pelos padrões mais restritos às nossas reais necessidades presentes e, sem atentar para as futuras (nivelar por baixo) e, diretamente se constitui como uma das causas do nosso baixo nível de desenvolvimento, relativamente ao resto do mundo, em particular, entre os povos e culturas de origens contemporâneas à nossa (exemplos: Austrália, Canadá, Estados Unidos, etc.).
Por que o crescimento da cidade teria que se adequar à capacidade de servir da instituição judicante, como fica implícito naquela forma de expressão, e não o contrário? Raciocino que uma forma de pensar grande induziria a um raciocínio como: é imperativo que a justiça se torne adequada, em tamanho e agilidade, ao padrão de crescimento da cidade e, desejavelmente, do seu crescimento.
Isto é apenas um pequeno exemplo. Muitas outras ações públicas de correção de lacunas vem se demonstrando estreitas, relativamente à finalidade maior de bem estar do povo.
Quanto ao problema dos engarrafamentos, lacunas relativas à necessidade de mobilidade urbana, ouve-se, com frequência: “é carro demais para poucas ruas” quando um raciocínio mais amplo seria; é necessário que exista maior espaço de circulação para os veículos (carros, ônibus, metrôs, etc) necessários, hoje e amanhã, para que o povo possa se locomover, com conforto e fluidez adequados, e não, termos como referencial a quantidade de ruas existentes e que nos servem.
Ainda dentro do tema da mobilidade urbana, em Salvador, tenho visto certas insuficiências relacionadas com o “pensar grande” nas dimensões e projetos em algumas obras que visam resolver, as necessidades presentes, deixando ainda a desejar quanto ao crescimento imediato da população como foram os casos das larguras de apenas duas pistas nos viadutos sobre a Av. Paralela: o que liga a Av. Pinto de Aguiar à Av. São Rafael, em passado mais remoto,e recentemente, o que liga o Imbuí, à Av. Edgard Santos. As passarelas, como as que ficam na Av. ACM (em frente ao prédio da Petrobrás e ao Pituba Center), e a que foi recentemente inaugurada em frente à Madeireira Brotas, faltam lances adicionais para que se evitem semáforos para faixas de travessia de pedestres, obstáculos à fluidez do tráfego, são também exemplos eloquentes que se inserem perfeitamente neste contexto.
Mantendo-me ainda no tema das dimensões das obras públicas, mas já passando para as questões da saúde e da educação, todos são testemunhas quanto a insuficiência das dimensões e quantidades e localização de equipamento educacionais e de saúde que são entregues a população, que por mais que se expandam, ainda serão insuficientes, já que, pelo que vemos, carecem de uma abordagem estratégica (pensar grande) do problema quanto a necessidade correlatas como qualificar e formar população especializada para esses serviços. Pouquíssimos se preocupam, por exemplo, em estimular novas e qualificar faculdades de medicina existentes, como alternativa ao programa federal denominado “Mais Médicos” de eficácia polêmica, quanto a sua efetividade, em particular, como solução de longo prazo.
Vemos, nos três níveis de governo, muitos os ocupados com a malha rodoviária, o que se constitui preocupação mais que necessária, porém se arrastam, quase parando, os grandes projetos ferroviários, tão estratégicos para exportação e, consequentemente para o desenvolvimento de grandes e potencialmente populosas regiões do interior. Este tipo de abordagem, porque mais populistas do ponto de vista imediato, não dão testemunho de que seu gestores “pensem grande”.


A disseminação da prática de se instalar quebras molas, estes artefatos que foram criados , como ameaças, como a própria denominação nos parece advertir, para restringir a fluidez do tráfego automobilístico. É outra manifestação do imediatismo e do pensar pequeno, como comentarei em outro texto específico sobre o assunto.

Acredito que a mudança do modo restritivo da nossa forma de pensar, para um enfoque mais amplo e visando a coletividade, seja uma necessidade cultural que devemos promover, para que possamos alcançar “ordem e progresso” como requer o “berço esplêndido” em que nascemos.

terça-feira, 8 de julho de 2014

DO CORPO AO ESPÍRITO

Paulo Tolentino Vieira
Adm. de Empresas Aposentado

Já na escola elementar, aprendi, que os sentidos do corpo humano são cinco: visão, audição, olfato, paladar e tato. Não estudei profundamente a biologia, não conheço uma definição que coloque limite naqueles cinco. Acho que ainda hoje, são aprendidos, como os principais, sem o aviso de que não são os únicos existentes. Percebo que ainda existem outros, não só no âmbito do corpo físico, mas também na mente, sem falar naqueles que ocupam o plano da alma, espírito.

Acredito mesmo que exista uma gradação, pela da qual os sentidos mais concretos se situem no plano do corpo físico e, à medida que vão se tornando mais sutis, se elevam para os planos mental e, sucessivamente, para o da alma, plano espiritual, Desse modo, progressivamente, passam a ser denominados sentimentos.

Não conhecendo alguma outra definição melhor, atrevo-me a ensaiar, pela minha percepção da realidade: Acho que Sentido, ou sentimento, é a forma como os seres se vêem interagindo com o mundo e os outros seres, à sua volta. Assim, a palavra sentido se confunde com sentimento, assim como, não parece adequado estabelecer limite exato entre o corpo, a mente e a alma.

Poderíamos enumerar, como outros sentidos. Sem dúvida, do corpo físico, certos impulsos para busca de satisfações fisiológicas - fome,  sede, avisos de excreção, etc. - , os ímpetos sexuais, as dores, “alertas” de que algo não vai indo bem, os quais não estão estão entre aqueles cinco iniciais.

Na plano da mente,  logo nos lembramos da intuição, chamada por muitos de sexto sentido, fruto do refinamento inteligente dos demais sentidos humanos, não se confundindo com o instinto, que também é forte nos animais. Pela intuição, ao percebermos alguns sinais inequívocos ao nosso redor, pela repetição de experiências vividas, podemos antever certas consequências prováveis.

Aqui cito dois exemplos: Primeiro; na natureza, se vermos o céu carregado de nuvens escuras e pesadas, na direção de onde vem o vento, podemos prever (ou intuir) ocorrência de chuva. Segundo; Na esfera social, se estamos num ambiente, onde são vistas pessoas ostentando visíveis sinais de prepotência e mau humor, não é difícil antever (intuir) que algum conflito advirá. Aos mais sensíveis e atentos, muitas previsões semelhantes, e até muito mais refinadas, são possíveis. Alguns desenvolvem maior habilidade para essas previsões do que outros.

À proporção que os sentidos vão sendo utilizados, vão se estabelecendo memórias diferenciadas que chegam mesmo a criar certas diferenças nas capacidades das pessoas. Assim como uns têm a visão mais “apurada”, outros, o paladar mais “refinado”, a audição mais “perceptiva” e assim por diante.Tenho a experiência de pessoas que, com disciplina e determinação, conseguem desenvolver, melhor do que outras, certas capacidades ligadas aos sentimentos.

Outros "sentidos" que ficariam no plano mental seriam; a memória, a ansiedade, o desejo, o afeto, a alegria, a euforia, a tristeza, a nostalgia, a saudade, a atenção, e por aí vai. Deixo a fé e a emotividade por último, por que gostaria de destacar estes que, como vejo, se situam num plano especial, limítrofe entre a mente e a alma, como se fossem portas, cuja ultrapassagem seria necessária para se alcançar melhor as sensações do plano seguinte.

Na Alma, este último e terceiro plano de nosso conhecimento, tenho a visão que seu mecanismos estão mais distanciados do nosso controle consciente.

Neste plano, se operam mecanismos que, quanto maior o refinamento, mais requerem proximidade com a Força Criadora. Chamo esta Entidade de Deus, Criador, e noutros momentos, até de Amor (com a maiúsculo), proximidade esta que é almejada pela maioria. A denominação é mais como uma forma de nos referirmos a Ele, porém o mais importante para nós O sentirmos mais próximo é a capacidade de cada um, e abertura para ser, influenciado por esse poder supremo, abrangente e criador de todas as coisas. Assim acho que podemos melhor alcança-Lo, entendê-Lo e senti-Lo.

São muitos os caminhos, para podermos começar e continuar entendendo melhor este plano: Precisa-se ter humildemente intelectual (aceitação), fé, estudo, reflexão íntima e outros sentimentos ou atos de elevada sutileza (meditação e oração, por exemplo), que são facilitados por intermédio, ou com ajuda, de outras pessoas, que majoritariamente se encontram, nas mais diversas religiões, desde que, sejam reconhecedoras do amor, como a suprema das virtudes.

Todas, dessas religiões que conheço, afirmam que, individualmente, este nosso plano, a alma (ou espírito) sobrexiste à vida terrena, e permanece - operando - em algum ponto do universo.

Deixei, propositalmente de citar o Amor, como um dos sentimentos, porque este transcende aos três planos e a tudo o mais, pois é o próprio Deus. Vejo-O e sinto-O assim.


Salvador, BA, 06/07/2014,