Paulo Tolentino de Souza Vieira
Porto - Portugal, 12 de junho de 2018
No Brasil, logo após a bem sucedida e, ao mesmo
tempo trágica, “greve do caminhoneiros”, em todo território brasileiro, com
consequências sofridas, para milhões de pessoas, e até mesmo fatais para
alguns, além de reflexos ainda não totalmente conhecidos e administrados,
ontem, houve mais uma “paralisação” que transtornou a vida de outros milhares
de cidadãos, trabalhadores e ordeiros; a dos motoristas de ônibus, desta vez,
na cidade do Rio de Janeiro. Alguns grevistas usaram, mesmo da força, para
impedir outros colegas de trabalhar. Reivindicaram aumento de salários, e a
volta de cobradores, nos ônibus. Naquela cidade, como em muitas outras do
mundo, o motorista passou a ter a função, de dirigir e cobrar passagens. Foi
uma reclamação setorial, mas todos sabem que insatisfações generalizadas
sobejam em quase todos os grupos de cidadãos ordeiros e trabalhadores, como são
os dois citados.
Em tempos de manifestações dessas, os problemas
das cidades e das pessoas crescem mais ainda, e a desordem e sofrimento da população
atingem níveis à beira de insuportáveis. O pior é que isso está se repetindo em
todo lugar e à toda hora! Somente quando se instalam caos como esses é que
nossos governantes se ocupam e tentam resolver os velhos problemas - de forma
sempre açodada, improvisadamente e sem uma política integrada e de longo prazo
definida. Falta uma abordagem política - no bom sentido - com previsibilidade,
que venha favorecer a população em visão definitiva. Deixam-se outras
prioridades sociais de lado, para solucionar, somente essas, em última hora,
como se estivessem sempre a “apagar incêndios”, tal como integrantes de corpos
de bombeiros. Esta mais recente foi mais uma manifestação por mais algum
segmento oprimido da população, entre tantos tumultos que vem acontecendo e
que, certamente, se as coisas não mudarem em sentido oposto, voltarão a
ocorrer, sempre com prejuízo a qualidade de vida de todos, e com intensidade
cada vez maior. Até quando? Essas eleições, que se nos prometem, vão resolver?
Suspeito fortemente que não.
Esse país está caótico mesmo, o pior e que não
vemos caminhos claros, nem saídas possíveis, para prazos razoáveis. Para as
eleições só é dado ao eleitor escolher aquele caminho que seja o "menos
horrível" entre todos os insatisfatórios, numa perspectiva de longo prazo.
Se houvesse uma cultura política saudável - o que não se vê absolutamente -
poderíamos pensar em algo, mas somente para gerações seguintes à que está
atualmente em idade ativa, e capaz de decidir pelo que quer.
Isso só seria possível de modificar, sustentável
e satisfatoriamente - mesmo assim, a longuíssimo prazo - se houvesse, já, um
consenso em torno de uma boa liderança. Mas não é que acontece agora, nem há
perspectiva alguma desta emergir, pelo que se vê das propostas que são discutidas.
Só se altercam indicações de culpas e envolvimentos em mazelas passadas, além
de pequenas propostas de ajustes legais, aqui e ali. Nunca se vê uma eventual
proposta conjuntural, para modificação do papel do estado, enquanto agente do
bem estar do povo, por exemplo.
Numa situação generalizada de exacerbado egoísmo
e de prepotência cultural, muitas vezes infundada, todos, acreditando-se
individualmente conhecedores, autossuficientes ficam incapazes de “olhar para
os lados” e buscando fórmulas próprias para uma solução coletiva própria. São,
porém impotentes para gerá-las e completá-las efetiva e detalhadamente, e
acabam se perdendo em elucubrações vazias, e, em última hora, votam com imensa
possibilidade de erro, naqueles com o discurso falacioso, mais acessível - o
populismo. Enfim tornou-se um ambiente onde, contradizendo o conhecido
provérbio popular. “...uma terra de cegos, onde quem tem um olho…”, acaba
sentindo fora do seu lugar.
Por isso, muitos, estão em retirada, e
estimulando àqueles a quem gosta, para fazerem o mesmo. Não vai haver nenhuma
reforma de abrangência, como a política, fiscal ou previdenciária possíveis,
para alterar uma cultura individualista, baseada no "se dar bem",
independente das outras pessoas tão legítimas quanto cada um.
É uma pena que a nação, onde construímos nossa
vida, esteja enveredando por caminhos tão tenebrosos. Cabe-nos esta avaliação
e, considerando-a precisa, devemos, por amor à única vida que temos, salvá-la
no seu restante, independentemente de onde tenhamos nascido - uma casualidade
que não escolhemos. Nossa vida é a mais importante de todas as coisas que temos
que lidar, incluindo nossa nacionalidade!
A migração ainda é uma possibilidade que se
mostra para os brasileiros, enquanto nosso país ainda está diferente de outros,
vizinhos ou próximos, que mais prematuramente optaram por enveredar por
caminhos semelhantes e impedem seus nacionais de migrar.
Essa tendência migratória, sem sombra de
dúvidas, tomada num conjunto, acaba sendo lesivo para o país, mas, numa
situação de desesperança, tal como numa ¨legítima defesa”, a quem caberia
prevenir esses prováveis danos? Nós, isoladamente frágeis, a custa de nossa
vida futura, ou outrem, eleitores historicamente inconsequentes, mais ocupados
com os próprios umbigos, que indiretamente levaram ao poder aqueles que, desde
muito, conduziram diretamente todo um povo, inclusive nós mesmos, a toda essa
situação de infortúnio imediatamente irremediável?
Infelizmente esse é o retrato atual do nosso
país. Pela falta de reais perspectivas de mudança nesse quadro, a saída de
talentos já é, cada vez mais frenética. São capitais humanos que fogem para
sobreviver, levando junto a si os seus parcos capitais e patrimônio material e
intelectual. O país, e cada um, empobrecem. Do ponto de vista nacional, vira um
ciclo vicioso. Para constatar essa realidade infelizmente em curso, basta fazer
um levantamento nos órgãos de imigração dos países modalmente preferenciais:
Paraguai, USA e Portugal entre outros.
Isso é muito triste para quem, nesse solo,
esperançosamente plantou com as melhores das intenções.