quarta-feira, 16 de julho de 2014

PENSAR GRANDE

Certa vez, li a expressão “Pense Grande”, semelhante ao título acima, dando nome a uma coletânea de depoimentos de empresários de sucesso. Trata-se de denominação perfeitamente cabível àquele contexto, mas já percebi que esta estrutura vocabular se transforma rapidamente num jargão corriqueiro, quase uma “palavra”, diferente da simples palavra pensar, que cabe também para raciocínios imediatistas ou restritos a certas culturas ou contextos.
No presente texto, desejo uma abordagem mais macro, própria da esfera sócio econômica e intercultural. A ideia me surgiu a partir de depoimento radiofônico, de uma alta autoridade do poder judiciário baiano, referindo-se a indesejável causa da lentidão da Justiça em concluir os processos na sua alçada. Como estava dentro de um automóvel, procurando emissora cuja programação mais me interessasse, não tive chance de ouvir o início da fala e identificar completamente seu autor. Mas não faz tanta falta assim, pois aquele tipo de raciocínio se tornou também numa forma de expressão bastante presente no linguajar corriqueiro, principalmente pelas autoridades públicas, como padrão para justificar certas lacunas de satisfação do povo, relativamente a serviços ao encargo do governo.

Ele estava comentando sobre o crescimento acelerado da nossa cidade, relativamente ao estagnado número de magistrados disponíveis para fluir os processos, que cronicamente se acumulam. Na justiça, a demora é uma falha muito grave pois como vi em citação de Ruy Barbosa, no Blog do Noblat “(...) “Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque (...) contraria o direito das partes, e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade.” (...)”, assim comprometendo a sua real real finalidade e objetivo de sua existência, enquanto instituição pública e neutra.
Aliás essa tendência ao pensamento restritivo, que a acomodação natural do nosso povo deixou se instalar, por razões históricas e de nossa origem cultural predominante (ibérica, indígena e africana), acaba por nos manter conformados com o nivelamento dos projetos sociais pelos padrões mais restritos às nossas reais necessidades presentes e, sem atentar para as futuras (nivelar por baixo) e, diretamente se constitui como uma das causas do nosso baixo nível de desenvolvimento, relativamente ao resto do mundo, em particular, entre os povos e culturas de origens contemporâneas à nossa (exemplos: Austrália, Canadá, Estados Unidos, etc.).
Por que o crescimento da cidade teria que se adequar à capacidade de servir da instituição judicante, como fica implícito naquela forma de expressão, e não o contrário? Raciocino que uma forma de pensar grande induziria a um raciocínio como: é imperativo que a justiça se torne adequada, em tamanho e agilidade, ao padrão de crescimento da cidade e, desejavelmente, do seu crescimento.
Isto é apenas um pequeno exemplo. Muitas outras ações públicas de correção de lacunas vem se demonstrando estreitas, relativamente à finalidade maior de bem estar do povo.
Quanto ao problema dos engarrafamentos, lacunas relativas à necessidade de mobilidade urbana, ouve-se, com frequência: “é carro demais para poucas ruas” quando um raciocínio mais amplo seria; é necessário que exista maior espaço de circulação para os veículos (carros, ônibus, metrôs, etc) necessários, hoje e amanhã, para que o povo possa se locomover, com conforto e fluidez adequados, e não, termos como referencial a quantidade de ruas existentes e que nos servem.
Ainda dentro do tema da mobilidade urbana, em Salvador, tenho visto certas insuficiências relacionadas com o “pensar grande” nas dimensões e projetos em algumas obras que visam resolver, as necessidades presentes, deixando ainda a desejar quanto ao crescimento imediato da população como foram os casos das larguras de apenas duas pistas nos viadutos sobre a Av. Paralela: o que liga a Av. Pinto de Aguiar à Av. São Rafael, em passado mais remoto,e recentemente, o que liga o Imbuí, à Av. Edgard Santos. As passarelas, como as que ficam na Av. ACM (em frente ao prédio da Petrobrás e ao Pituba Center), e a que foi recentemente inaugurada em frente à Madeireira Brotas, faltam lances adicionais para que se evitem semáforos para faixas de travessia de pedestres, obstáculos à fluidez do tráfego, são também exemplos eloquentes que se inserem perfeitamente neste contexto.
Mantendo-me ainda no tema das dimensões das obras públicas, mas já passando para as questões da saúde e da educação, todos são testemunhas quanto a insuficiência das dimensões e quantidades e localização de equipamento educacionais e de saúde que são entregues a população, que por mais que se expandam, ainda serão insuficientes, já que, pelo que vemos, carecem de uma abordagem estratégica (pensar grande) do problema quanto a necessidade correlatas como qualificar e formar população especializada para esses serviços. Pouquíssimos se preocupam, por exemplo, em estimular novas e qualificar faculdades de medicina existentes, como alternativa ao programa federal denominado “Mais Médicos” de eficácia polêmica, quanto a sua efetividade, em particular, como solução de longo prazo.
Vemos, nos três níveis de governo, muitos os ocupados com a malha rodoviária, o que se constitui preocupação mais que necessária, porém se arrastam, quase parando, os grandes projetos ferroviários, tão estratégicos para exportação e, consequentemente para o desenvolvimento de grandes e potencialmente populosas regiões do interior. Este tipo de abordagem, porque mais populistas do ponto de vista imediato, não dão testemunho de que seu gestores “pensem grande”.


A disseminação da prática de se instalar quebras molas, estes artefatos que foram criados , como ameaças, como a própria denominação nos parece advertir, para restringir a fluidez do tráfego automobilístico. É outra manifestação do imediatismo e do pensar pequeno, como comentarei em outro texto específico sobre o assunto.

Acredito que a mudança do modo restritivo da nossa forma de pensar, para um enfoque mais amplo e visando a coletividade, seja uma necessidade cultural que devemos promover, para que possamos alcançar “ordem e progresso” como requer o “berço esplêndido” em que nascemos.

3 comentários:

  1. Pensar grande não seria também pensar a longo prazo? Quando se pensa em fazer algo para "ontem", em geral se pensa muito pequeno, tipo algo para tapar buraco, ou improvisado...
    ML

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  2. A improvisação faz parte da natureza do brasileiro. O armengue, a gambiarra, necessidade de dar solução rapida e tirar o corpo fora rapidinho.

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    1. O que poderíamos fazer para uma mudança desejável?
      Proponho:
      - Denunciar Exemplificando.
      - Conversar (ou escrever) sobre o assunto,
      - Enaltecer os "grandes pensadores"
      - Manifestar desprezo aos frutos de pensamentos tacanhos,
      - Criar, acompanhar e quando necessário, modificar estratégias de mudança..
      - Manter-se alerta.
      - Votar e convencer votos, dentro desse objetivo.
      São somente alguns pontos, outros podem ser criados ou desdobrados.

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